terça-feira, 25 de novembro de 2014

Giorno 58 - E o que vou fazer quando voltar para o Brasil?

Parece uma grande piada, mas depois de um bom domingo de descanso, tive uma péssima noite de sono, ou melhor, de insônia. Não conseguia dormir de jeito nenhum. Mil pensamentos na cabeça e a pergunta que não quer calar: 'che cazzo' vou fazer quando voltar para casa?



Sim, porque eu sei que a vida que levo aqui não é a vida real: é uma vida de balada, de festa, de férias. Uma vida de relax, de comprometimento comigo mesma, com as minhas vontades e nada mais. 

Mas o fato é que acordei aos pedaços na segunda-feira (24/11). Enfiei qualquer roupa e fui à escola. E, pela primeira vez desde que cheguei aqui, me arrependi de ter feito isso. Roberto, meu professor, está doente de novo e, dessa vez, a professora substituta me incomodou muito. Se chama Letizia e é bem gentil, mas nos tratou como um grupo de estudantes nível 01. 

O texto a ser lido era estupidamente fácil, mas tivemos que reler seis vezes. O mesmo com o exercício de 'ascolto', que tivemos que ouvir cinco vezes e eu já estava quase decorando as falas da mulher, de tão fácil. 

Eu não posso ter aulas assim: são chatas e entediantes. A grande coisa de ir à escola é sentir o desafio de aprender coisas novas, de perceber o cérebro trabalhando e, principalmente, de se sentir em crescimento constante. 

Laure e Deborah também estavam bem incomodadas com a situação. 

A única coisa boa é que assim que entrei na sala de aula, MIU me viu e gritou o meu nome com uma empolgação muito carinhosa. Ela, que acabou de voltar do Japão, se levantou e baseada na entonação com a qual gritou 'TALITA', achei que ela fosse me dar um grande abraço, mas sabe como são os japoneses, né... rs! Ela só me cumprimentou com beijos e foi bem carinhosa! :)

Quando a aula acabou, fui para casa jurando que dormiria a tarde toda. Até parece, né? 

Comecei a preparar meu próprio almoço quando Santiago apareceu na cozinha para fazer o mesmo. Começamos a conversar e, como se ele estivesse lido os meus pensamentos da madrugada em claro, me fez a seguinte pergunta: 

- O que você pretende fazer quando voltar ao Brasil?

Eu ri. 

- Não sei, Santi. De verdade. No começo, não estava pensando nisso, mas tenho pensado de uns tempos para cá e isso me tirou o sono esta noite. 

- Mas vai trabalhar, não?

- Sim, claro. Preciso. E quero. Gosto de trabalhar e sei que escolhi a profissão correta porque comunicar é natural para mim, mas não quero voltar ao meu antigo estilo de vida. 

- E qual era seu antigo estilo de vida?

- Trabalhar demais, não só em horas por dia, mas principalmente, me jogar de corpo, alma e coração no trabalho. Me envolvia demais, me dedicava demais, me estressava demais.... vivia de menos. 

- Tali, você sabe que assim que começar a voltar a trabalhar, aos poucos sua vida vai voltar a ser exatamente assim, né? 

- Sei. É isso que me bloqueia de ir atrás de um novo emprego...

- Essa mudança tem que ser sua, não do emprego. Você deve impôr os seus limites, expressar as suas vontades. Sua vida é mais importante que seu trabalho, mas você precisa do seu trabalho para viver. Mas você veio aqui buscar o que?

- Não sei... Equilíbrio, eu acho. 

- Encontrou? 

- Sim. Tenho certeza que sim. 

- Então não o perca mais. Emprego nenhum pode tirar o que você finalmente encontrou. 

- E o que eu faço? 

- Encare seu emprego como um trabalho, como algo que te completa, que te ajuda a ganhar dinheiro; mas não como sua vida. 

- Simples assim?

- Simples assim. 

- Obrigada, Santi. 

- De nada. Mas o conselho não é de graça...

- Sabia! 

- Pode me ajudar a escrever um texto formal em inglês? Porque se eu o fizer, será como o italiano do Waldyr. 

Todos rimos, inclusive Giovanni que a esta altura já havia se juntado a nós. 

Essa conversa me fez me sentir leve, tranquila. Acho que essa é uma das coisas que eu realmente gosto da mentalidade das pessoas por aqui: nada, absolutamente NADA, é mais importante do que a sua vida, sua família, sua felicidade. 

Talvez seja por isso que, neste momento, a Europa esteja em crise, mas para eles, o trabalho é só um trabalho, e não um estilo de vida. 

Porque todo mundo precisa de dinheiro, mas nem todo mundo precisa perder a vida para ter tanto dinheiro sem nem ao menos ter tempo e disposição de gastá-lo. Simples assim. 

Depois desse papo, estudei um pouco de italiano, tomei um banho e me arrumei. 

A noite da segunda-feira tinha 'apenas' três compromissos, dá para acreditar? Primeiro, passei na escola onde assinei uma carta de aniversário para Erica, uma das moças que trabalha no café. E aproveitei para me desculpar com Matias que estava agitando a festa surpresa, mas eu não poderia estar presente, pois era o último dia de Sarah e nós fomos com ela até San Loranzo, tomar uma cerveja. 

Estávamos eu, Clemi, Hele, Beto, Debbie, Lia e Sarah. 

Depois, todos nós (menos Lia e Sarah) fomos à casa de Hele e Beto, que preparam um jantar para nós: hambúrguer (feito por eles), salada, batatas... Conversamos bastante, demos muita risada como sempre e voltamos para casa. 

Quando cheguei, ainda bati um papo com Rachele e Giovanni e fui dormir cedo! :)

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