Sim, porque eu sei que a vida que levo aqui não é a vida real: é uma vida de balada, de festa, de férias. Uma vida de relax, de comprometimento comigo mesma, com as minhas vontades e nada mais.
Mas o fato é que acordei aos pedaços na segunda-feira (24/11). Enfiei qualquer roupa e fui à escola. E, pela primeira vez desde que cheguei aqui, me arrependi de ter feito isso. Roberto, meu professor, está doente de novo e, dessa vez, a professora substituta me incomodou muito. Se chama Letizia e é bem gentil, mas nos tratou como um grupo de estudantes nível 01.
O texto a ser lido era estupidamente fácil, mas tivemos que reler seis vezes. O mesmo com o exercício de 'ascolto', que tivemos que ouvir cinco vezes e eu já estava quase decorando as falas da mulher, de tão fácil.
Eu não posso ter aulas assim: são chatas e entediantes. A grande coisa de ir à escola é sentir o desafio de aprender coisas novas, de perceber o cérebro trabalhando e, principalmente, de se sentir em crescimento constante.
Laure e Deborah também estavam bem incomodadas com a situação.
A única coisa boa é que assim que entrei na sala de aula, MIU me viu e gritou o meu nome com uma empolgação muito carinhosa. Ela, que acabou de voltar do Japão, se levantou e baseada na entonação com a qual gritou 'TALITA', achei que ela fosse me dar um grande abraço, mas sabe como são os japoneses, né... rs! Ela só me cumprimentou com beijos e foi bem carinhosa! :)
Quando a aula acabou, fui para casa jurando que dormiria a tarde toda. Até parece, né?
Comecei a preparar meu próprio almoço quando Santiago apareceu na cozinha para fazer o mesmo. Começamos a conversar e, como se ele estivesse lido os meus pensamentos da madrugada em claro, me fez a seguinte pergunta:
- O que você pretende fazer quando voltar ao Brasil?
Eu ri.
- Não sei, Santi. De verdade. No começo, não estava pensando nisso, mas tenho pensado de uns tempos para cá e isso me tirou o sono esta noite.
- Mas vai trabalhar, não?
- Sim, claro. Preciso. E quero. Gosto de trabalhar e sei que escolhi a profissão correta porque comunicar é natural para mim, mas não quero voltar ao meu antigo estilo de vida.
- E qual era seu antigo estilo de vida?
- Trabalhar demais, não só em horas por dia, mas principalmente, me jogar de corpo, alma e coração no trabalho. Me envolvia demais, me dedicava demais, me estressava demais.... vivia de menos.
- Tali, você sabe que assim que começar a voltar a trabalhar, aos poucos sua vida vai voltar a ser exatamente assim, né?
- Sei. É isso que me bloqueia de ir atrás de um novo emprego...
- Essa mudança tem que ser sua, não do emprego. Você deve impôr os seus limites, expressar as suas vontades. Sua vida é mais importante que seu trabalho, mas você precisa do seu trabalho para viver. Mas você veio aqui buscar o que?
- Não sei... Equilíbrio, eu acho.
- Encontrou?
- Sim. Tenho certeza que sim.
- Então não o perca mais. Emprego nenhum pode tirar o que você finalmente encontrou.
- E o que eu faço?
- Encare seu emprego como um trabalho, como algo que te completa, que te ajuda a ganhar dinheiro; mas não como sua vida.
- Simples assim?
- Simples assim.
- Obrigada, Santi.
- De nada. Mas o conselho não é de graça...
- Sabia!
- Pode me ajudar a escrever um texto formal em inglês? Porque se eu o fizer, será como o italiano do Waldyr.
Todos rimos, inclusive Giovanni que a esta altura já havia se juntado a nós.
Essa conversa me fez me sentir leve, tranquila. Acho que essa é uma das coisas que eu realmente gosto da mentalidade das pessoas por aqui: nada, absolutamente NADA, é mais importante do que a sua vida, sua família, sua felicidade.
Talvez seja por isso que, neste momento, a Europa esteja em crise, mas para eles, o trabalho é só um trabalho, e não um estilo de vida.
Porque todo mundo precisa de dinheiro, mas nem todo mundo precisa perder a vida para ter tanto dinheiro sem nem ao menos ter tempo e disposição de gastá-lo. Simples assim.
Depois desse papo, estudei um pouco de italiano, tomei um banho e me arrumei.
A noite da segunda-feira tinha 'apenas' três compromissos, dá para acreditar? Primeiro, passei na escola onde assinei uma carta de aniversário para Erica, uma das moças que trabalha no café. E aproveitei para me desculpar com Matias que estava agitando a festa surpresa, mas eu não poderia estar presente, pois era o último dia de Sarah e nós fomos com ela até San Loranzo, tomar uma cerveja.
Estávamos eu, Clemi, Hele, Beto, Debbie, Lia e Sarah.
Depois, todos nós (menos Lia e Sarah) fomos à casa de Hele e Beto, que preparam um jantar para nós: hambúrguer (feito por eles), salada, batatas... Conversamos bastante, demos muita risada como sempre e voltamos para casa.
Quando cheguei, ainda bati um papo com Rachele e Giovanni e fui dormir cedo! :)
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