segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Giorni 7 e 8 - Le Cinque Terre e Portovenere

O mapa da região da Liguria, onde fica Le Cinque Terre

O sábado, dia 04 de outubro começou com o despertador tocando às 06h45, porque o dia de passeio era intenso. Abri os olhos, me desejei feliz ano novo, fiz umas orações, minha higiene pessoal e, ao ligar o celular, já recebi uma mensagem da minha mãe e ouvi duas deliciosas mensagens das minhas queridas melhores amigas, Madalena e Fernanda, que tiveram a delicadeza de, às 19h de São Paulo, do dia 03/10, lembrarem que já era o dia do meu aniversário por aqui. Foi uma delícia acordar assim, com tanto amor e boas energias. Em tempo, obrigada, meninas! Vocês são incríveis!

Maria e Ita logo acordaram e me desejaram feliz aniversário. Segui para o café da manhã um pouco depois que elas, porque fiquei cuidando do make (afinal, 29 são quase 30, hehe) e, então, percebi que tenho cultura mais americana do que europeia. Explico o por quê.

Desci até a recepção, achando que do café da manhã era por lá. Me enganei. Então, me orientaram a pegar o outro elevador e seguir direto para o 5o. andar, onde era o restaurante. Cheguei ao elevador e encontrei mais três senhoras, todas de uma excursão dos EUA para terceira idade. Esperamos mais de 15 minutos e, então, perguntei ao recepcionista se o elevador estava quebrado. Ele me disse que alguém não devia ter fechado corretamente a porta, em algum andar, e isso prendeu o elevador. E eu, na ingenuidade que me pertence, perguntei se demorava muito para arrumar. A resposta foi curta e grossa: de escada é mais rápido. Quando traduzi a resposta dele para o inglês, para auxiliar as senhoras, elas se indignaram, com razão (excursão para TERCEIRA IDADE, lembram?). Uma delas, inclusive, usava bengala. Fiquei constrangida por elas. Uma outra funcionária do hotel percebeu o desconforto e sugeriu que usássemos o outro elevador até o terceiro andar, assim, seria menos trabalhoso.

Auxiliei as senhoras que foram muito gentis comigo e me acharam muito educada (obrigada, mommy and dad pela educação que me foi dada) e, finalmente, chegamos ao restaurante. Comentei com elas que esse tipo de coisa jamais aconteceria nos EUA, que sempre pensam nos idosos com tanto respeito e atenção. Ao longo dos anos, eu aprendi a admirar a cultura norteamericana, muito porque tenho família que vive lá há anos. Depois que minha prima se casou com um americano e eles me convidaram para ser madrinha da primeira filha deles, passei a me interessar cada vez mais pela cultura desse povo tão criticado por todo o mundo, mas que tem tanto a nos ensinar. E este é um exemplo claro disso.

Estava uma zona no restaurante. Vi várias pessoas comendo ovos mexidos, mas não encontrei na mesa de comida, então, perguntei à única garçonete, que disse que me traria à mesa. Queria um café reforçado porque o dia seria longo. Os ovos demoraram mais e meia hora, mas não eram especialmente deliciosos.

Seguimos a pé para o porto de La Spezia, numa tranquila e breve caminhada de 15 minutos.

O mapa da 5 Terre

Compramos o ticket do barco com destino a Monterosso, a primeira terra a ser visitada. Já no barco, nos separamos: Maria quis ir na parte coberta, Ita quis is na parte superior, e eu quis ir na parte descoberta, mas traseira do barco. Lembro de ter aprendido que é uma região que balança menos e, portanto, causa menos náusea. Não lembro com quem aprendi isso, mas tenho quase certeza de que foi com o padrinho da minha irmã, o Tchu, que é um apaixonado por barcos e pela vida perto do mar, e de quem eu lembrei muito durante toda essa viagem.

TCHU: Pode colocar na lista de lugares para visitar de barco: Le Cinque Terre e Portovenere! :)

O passeio de barco foi delicioso. Foram duas horas até o destino, mas passeando por todas as ilhas, que são um espetáculo à parte. A cor do Mar Mediterrâneo é algo de outro mundo e o colorido das casas dão um charme especial à região.

Vista da marina, onde pegamos o barco

Vista do passeio de barco

Durante todo o trajeto de barco, estive sozinha. E isso foi muito bom para mim, porque sentada ali, naquele sol cheio de boas energias e em meio àquela imensidão azul-esverdeada, comecei a pensar muito em mim, na minha vida, nos meus sonhos, nas minhas necessidades.

Eu sorri para mim mesma diversas vezes. Sei que sou uma pessoa de sorte, que tenho amigos incríveis e uma família iluminada. Sei que escolhi a profissão certa e que tenho oportunidades únicas. Mas hoje, finalmente, aceitei que não tem problema eu me sentir um pouco perdida.

Não é fácil ser uma mulher de quase 30 anos, que não tem um emprego fixo, que ainda mora com os pais, que não tem namorado, não é casada, não tem filhos, não tem casa própria... É muita cobrança social que se tornam cobranças individuais.

Hoje, finalmente entendi que preciso tirar um pouco desse peso de cima de mim. Caso contrário, posso comer salada todos os dias da vida e ainda continuar engordando.

Quando chegamos a Monterosso, fiz um trato mental comigo mesma: que neste dia do meu aniversário, do meu ano novo; eu seria leve comigo mesma e, especialmente, com a vida em si.

Euzinha, celebrando os 29 e divando nos barco a caminho de Monterosso!

O passeio foi um presente de Deus. E de São Francisco, é claro.

Fiquei completamente encantada com tudo: as pessoas, que são lindas, gentis e com boas energias; com a culinária local, que é muito baseada em coisas do mar e preparada de forma muito saborosa; com as paisagens, que provam como a natureza sabe o que faz.

A cidade parece cenário de filme, de tanta perfeição. As pessoas na praia, o sol brilhando no mar, as bicicletas dando o ritmo da locomoção...




Mas ainda era a primeira parada e havia outras quatro! Então, para visitarmos as outras terras, compramos um bilhete de trem, que por apenas quatro euros, dá direito a seis horas de uso. E as terras têm distância de 5 minutos de trem entre uma e outra. Por isso, esse passeio é uma pedida para quem curte trilhas: muitos turistas fazem caminhadas para conhecerem as Cinque Terre. Mas não foi o meu caso, rs.

A segunda terra onde paramos é menor de todas, mas não menos charmosa. Vernazza foi o lugar escolhido por nós para almoçarmos e eu pedi um tagliatelli com lulas (que eu amo) e vinho branco.



As meninas tinham falado em comer um 'tramenzzino' andando mesmo porque queriam olhar todas as lojas, mas eu disse que ficassem à vontade, porque no dia do meu aniversário eu iria sentar e degustar uma saborosa refeição. Elas acabaram me acompanhando, mas eu estava bem tranquila em relação às escolhas de cada uma. O almoço estava uma delícia: perfeito foi pouco!

Salute a me!

Seguimos para Corniglia, onde subimos (e depois descemos, obviamente) 342 degraus para chegar à cidade. Foi cansativo e percebi que uma hora a conta do sedentarismo chega.

[Nota mental: Preciso voltar a me exercitar com urgência!] 



Mas a vista do alto compensava todo sacrifício!!



Depois, seguimos para quarta terra; Riomaggiore.




Como a cidade não tem porto, existe um mecanismo que sobe os barcos ao final do dia

Lá vimos um belo pôr-do-sol, que comecei a assistir no porto, mas terminei na estação de trem. Sentei, novamente sozinha, e me deixei emocionar com aquela visão da perfeição do encontro do sol com o mar. Foi sinceramente bonito, porque tinha a simplicidade da coisa natural, sem filtro, sem intervenção humana: apenas o sol e o mar (e um barquinho, vai... rs!)

Novamente, me senti privilegiada por comemorar meu aniversário com uma cena dessas, que refletiu com perfeição o dia que estava tendo. Agradeci.



E agradeci de novo quando, já em Manarola, a quinta e última terra, vi a lua crescer e ganhar o céu, que outrora escuro, estava prateado de tanta luz.



As cinco terras são bem semelhantes entre si. E faz algum tempo que não vou ao Rio de Janeiro, mas sei que os morros se tornaram locais turísticos pelas paisagens. Penso que há alguma semelhança entre os dois locais (já sei que serei xinagada por muitos de vcs, hehehe), mas essas cinco cidades vivem da pesca e do turismo, mas é fácil de se perceber que a população local não é rica, ao contrário dos turistas e proprietários de casas de veraneio.

É um local pobre, com varais nas janelas, roupas penduradas que secam ao sol forte, e de pessoas bastante simples, o que torna essa região especialmente charmosa. Esse contraste é interessante e algo nas cores me lembraram Salvador, que é um dos lugares mais coloridos que já conheci.

Além disso, Le Cinque Terre é tombado pela Unesco, como patrimônio histórico da humanidade, o que impede a construção de grandes hotéis e coisas do gênero. Acho excelente. Qualquer coisa diferente do que é, descaracterizaria a beleza do local.

Ao voltarmos para o hotel, percebi que estávamos MUITO cansadas. Ainda assim, tomei banho, me arrumei e fomos jantar num restaurante literalmente em frente ao hotel. Spaghetti a carbonara para comemorar o aniversário e encerrar o delicioso dia.

Quando deitei, dormi tão rápido que nem percebi.

Acordei no domingo, 05/10, com cólica. Depois do café, decidi que ficaria no quarto para ver se melhorava. Uma hora depois, já estava na rua, recebendo mais energias do sol. Visitei uma igreja, onde rezei mas não fiquei para missa. Passeei pelas ruas e cheguei à feirinha de artesanato que era muito charmosa. Comprei dois livros por cinco euros. São romances italianos e não parecem impossíveis. Vou tentar, depois conto.

Resolvi parar numa farmácia porque fiquei com medo de precisar de absorvente (eu trouxe de SP, mas deixei em Roma e a lei de Murphy tá sempre aí para dar uma forcinha, como vocês já sabem) e as farmácias estavam fechadas, todas elas. Mas ao lado de cada uma há uma espécie de self-farmácia, que funciona, a grosso modo, como uma máquina de refrigerante: vc coloca o dinheiro, escolhe o produto e leva pra casa. Mas, para minha surpresa, mais da metade dos produtos eram... camisinhas! Inúmeras variedades de marcas, cores, tamanhos... E, para minha maior surpresa, a outra metade eram de produtos diversos, mas nenhum absorvente. Isso me fez pensar que os italianos têm a vida sexual mais incrível do mundo, podemos todos morrer de inveja. Agora. Porque, além disso, aparentemente, as mulheres daqui não menstruam. Que vida boa, minha gente! Enfim...



Encontrei Maria e decidimos ir de ônibus até Portovenero, que é uma sexta terra menos visitada e um pouco menos conhecida conhecida. Ita não quis ir conosco porque ficou encantada com a feirinha de antiguidades, rs. E que sorte a nossa de termos ido! Foi, de longe, o meu lugar preferido!

De origem medieval, Portovenere possui um castelo de pedras e uma igreja no alto do morro, que estava sendo preparada para um casamento. E que belo lugar para se casar!! E que belo dia! :)







Enquanto isso, na 'praia', um monte de gente torrando no sol, que estava ardido e brilhava no mar. Mas não tinha areia, não: eram pedras e me pareciam bem incômodas, embora ninguém parecesse estar preocupado, rs.

Almoçamos em um pequeno restaurante extremamente charmoso chamado Portivene, onde pedi uma salada de lulas de comer rezando e que mostro a foto abaixo que está tremida, mas a intenção era deixar todos vocês BA-BANDO! Hehe!



Voltamos ao hotel, fizemos check out e seguimos de trem de volta para Roma, que não me enjoou e rendeu diversos posts para este blog, como este que vocês estão lendo!

A Maria levou um tombo durante o passeio a Portovenere e estava sentindo muita dor no pé, por isso, quis ir de táxi da estação de trem para casa, mas é tão perto que nenhum taxista quis nos levar. Então, fomos caminhando devagar. E, pela primeira vez, senti um pouco de medo de andar na rua por aqui.

Eram 22h e a estação Termini fica no centro, que não é exatamente o lugar mais bonito de Roma. Imagine caminhar pelas proximidades da estação da Sé ou do Terminal Barra Funda, às 22h, em São Paulo? É a mesma coisa. Mas eu fiquei esperta e até optamos pelo caminho mais longo, porém mais iluminado e mais movimentado. Acho que ser de cidade grande dá mais segurança para encarar a falta de segurança. Faz sentido?

Bom, chegamos sãs e salvas em casa. Desarrumei mala, comi um lanche, tomei um banho, conversei com minha mãe e com minha afilhada e prima dos EUA, acompanhei a apuração das eleições no Brasil e, lá pelas duas da manhã acabei dormindo. Eu preciso dormir mais cedo por aqui, rs.


Essa não foi uma viagem planejada, o que a tornou ainda mais legal. Acabei gastando mais dinheiro do que se tivesse planejado com calma, mas tudo bem. Economizo em outras coisas. Porque essa viagem foi uma agradável surpresa da vida; a primeira que me permito em anos. E que venham [muitas] outras!


Nenhum comentário:

Postar um comentário