quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Giorni 11 - Lua vai...

Na quarta-feira, acordei disposta e animada para mais um dia de aula. Pode parecer meio nerd, haha, mas eu tenho adorado ir às aulas.

Primeiro porque, ao contrário do que eu pensava, as aulas não seguem o modelo tradicional de ensino, com livros, lições, tarefas, trabalhos em grupo, chatices e afins. Penso que a escola entende que são alunos de diversas idades, diversas culturas e diversos interesses, além de que alguns ficam por meses e, outros, por poucas semanas. Isso faz com que a dinâmica das aulas sejam diferentes e, a cada dia, tem uma coisa nova. Acho isso ótimo. 

Depois porque estou mais enturmada e isso faz com que as aulas fluam de maneira mais tranquila, sem tanta cobrança e desespero, hehe. 

Minha atividade preferida é quando os professores encenam qualquer tipo de situação e nos forçam a criar o diálogo, quase que espontaneamente. Mas, mais que criar as falas, eles nos fazem trocar os verbos, encurtar as frases para a maneira mais casual da língua e, principalmente, usar a entonação. 

Essa é uma característica muito, mas muito importante do idioma italiano: não se pode falar sem se expressar. É quase que uma peça de teatro: os gestos corporais, o tom da voz, a entonação dada, as pausas certas... Isso sim que é fala italiano, mesmo que com a gramática 'più o meno' correta. 

Resolvi almoçar na escola mesmo, para fazer companhia à Maria, que volta ao Brasil no fim de semana. Depois, retornamos à casa, onde perdi um bom tempo atrás de passagem para uma viagem que pretendo fazer. Quando percebi, já estava [quase] atrasada e comecei a me arrumar. 

Dessa vez, dediquei um bom tempo para o make, para começar a colocar em prática o que aprendi no curso que fiz antes de vir para cá. Ainda não estou dominando muito o lance da sombra na curvatura do côncavo da pálpebra, mas... vá bene! 

Sequei o cabelo com secador (e não porque faço isso com frequência, mas sim porque a água daqui tem sido quase um crime para o meu cabelo brasileiro), escolhi uma roupa ainda no clima de verão e saí.



Encontrei a Viviane na Termini, nosso ponto de encontro oficial e seguimos para o restaurante onde deveríamos encontrar os meus colegas de classe. O lance é que eu não sou exatamente a pessoa mais bem localizada geograficamente do mundo (não falo que sou 'perdida' porque minha terapeuta acha que isso pode dar vazão a muitos significados. Ela tem razão.) e acabamos seguindo para o lado errado. 

Só depois de andar mais de 15 minutos é que me dei conta do erro e seguimos para a direção correta. Chegamos ao restaurante com um pouco de atraso, mas tá valendo.

O local de chama '100 Montaditos' e, toda quarta-feira, acontece a 'Euro Mania', ou seja, tudo no bar custa apenas 1 euro. Sim, eu disse UM euro. É um restaurante espanhol e a febre se espalhou pela Europa. 

O bacana é que a bebida alcóolica só custa um euro se você pedir alguma coisa para comer. Caso contrário, o preço é regular. Posso estar enganada, mas me parece que eles não bebem tanto quanto nós, ou pelo menos, bebem com um conceito mais da alimentação mesmo. Isso é bem interessante.



No bar estavam eu, Vivi, Valentina, Jesper e mais três estudantes da Dilit que eu não conhecia e dos quais só me lembro o nome da brasileira, hehe, que é Carolina e quer estudar direito por aqui. 

Mas o pessoal foi embora logo e ficamos só nós, os da sala, e a Viviane. 

Como tem essa febre do um euro, combinamos de nos encontrar logo às 18h lá, o que foi ótimo, porque lá pelas 20h e tanto, a fila para entrar era algo surreal. E me achei interessante que o Jesper sugeriu de irmos embora, já que já tínhamos comido e havia um monte de gente na espera. Eu jamais pensaria isso, haha. Tipo, se cheguei antes e peguei a mesa, bom para mim, não? É... parece que não, rs! 

Já estava frustrada de ir para casa tão cedo. É estranho para mim ver a noite acabar quando deveria estar começando, especialmente uma noite de outono com cara de verão como esta... Mas daí o Jesper sugeriu de irmos a um outro bar, qualquer um naquela região de San Lorenzo, onde estávamos. Foi quando aprendi que aquele é um bairro bem boêmio. 

Quando começamos a caminhar em busca do bar ideal, me deparei com a bela lua cheia, que preenchia o céu de maneira estonteante. Fiquei ali parada, admirando como se nunca mais fosse ver uma lua como aquela, que prateava o céu e clareava o coração.



Valentina gritou meu nome para me despertar da imensidão da lua sob a qual eu estava envolvida e me dei conta que era melhor acelerar o passo para não me perder dos meus novos amigos. 

Sentamos num novo bar, pedimos outra cerveja e conversamos mais. 

A parte bem legal é que falamos em italiano o tempo todo. Com alguma dificuldade, é claro, mas cada vez mais natural, especialmente depois de uma ou duas 'birra', que deixa todo mundo mais extrovertido e com mais facilidade de interpretar o italiano, sem medo de errar.



Eu me diverti de verdade. Dei muita risada. Me senti livre. Me senti leve. Me senti tranquila. Aos poucos, a vida vai me mostrando que fiz uma boa escolha e que estou no lugar certo, conhecendo as pessoas certas. 

Neste momento, encontrar pelo caminho pessoas que estão livres de julgamentos ou de preconceitos, tem sido muito importante para mim. Estou aqui há apenas dez dias e sinto que isso já faz diferença na maneira como eu vejo o mundo e, principalmente, como eu vejo as outras pessoas. 

O bar tocou o sino (tipo, literalmente) avisando que ia encerrar as atividades e fomos para casa. A pé. Ás 22h30. Aliás, a certo ponto, Valentina foi caminhando sozinha por um túnel que eu não queria deixá-la ir por nada, mas virei motivo de piada... era apenas um túnel! 

Eu e a Vivi acompanhamos Jesper no sentido Termini e, em toda área lateral da estação, havia muitos mendigos, pedintes e sem teto, numa situação bem triste de se ver. Eis que, no meio de todas essas pessoas que nos causavam medo, havia um caixa eletrônico e uma FILA de pessoas sacando dinheiro. 

Quando eu e a Vivi vimos aquilo, caímos na gargalhada. Rimos de nós mesmas, que jamais sacaríamos dinheiro em um local como este, especialmente àquela hora da noite. São Paulo - e o Brasil, de uma maneira geral - nos fez pessoas muito desconfiadas de tudo e todos. Não passa pela nossa cabeça que aquelas pessoas estão dormindo na rua porque não têm outra opção de vida; para nós, já é sinônimo de perigo. 

Ao som da nossa gargalhada, Jesper quis saber o que era tão engraçado. Tentamos explicar, mas a cabeça dele de sueco que é não entendeu por que nosso primeiro pensamento foi no 'perigo' e não na 'compaixão'. 

Segundo ele, em Roma há perigo como em qualquer lugar do mundo, porque há pessoas perigosas em qualquer lugar do mundo. Mas não se pode viver com medo. Ele tem razão. 

No caminho de volta para casa, encontrei a Maria e o Valdir em busca de uma garrafa de água com gás. Acompanhei eles e aproveitei para comprar um sorvete, já que a noite estava deliciosa. O moço do caixa me cobrou 2,40, mas eu argumentei - EM ITALIANO! - que o preço dizia 1,90. Ele se convenceu e seguimos de volta para casa, onde tirei a maquiagem, escovei os dentes e me joguei na cama, deixando meu quarto na maior bagunça, hehe. 

Mas tudo bem. Amanhã eu arrumo. Hoje eu só quero dormir. Feliz! :) 


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